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Encontros e desencontros

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Como a sustentabilidade contribui para reaproximar ciência e espiritualidade, após séculos de separação

Equações matemáticas, quando repetidas infinitamente, criam imagens abstratas. São os chamados fractais. A equação dita
Equações matemáticas, quando repetidas infinitamente, criam imagens abstratas. São os chamados fractais. A equação dita “espiritual” que gerou este fractal é denominada “Buddhabrot”, por lembrar a forma de Buda/ Rodrigo Siqueira/Fractarte.com.br

Por Magali Cabral e Amália Safatle

Há fronteiras onde a ciência e a espiritualidade esbarram-se uma na outra e coexistem em harmonia. Enquanto a ciência privilegia resultados de equações indizíveis na busca da origem do universo e da vida, a espiritualidade domina o terreno da sensação, do imaginativo, do místico, do esotérico, das religiões. Cientistas de ponta, como Albert Einstein, Max Planck ou David Bohm sempre mantiveram um “pé” na espiritualidade. Do mesmo modo, grandes sábios e líderes espirituais, como o dalai-lama Tenzin Gyatso, o papa Francisco ou Gregor Mendel (1822-1884), nunca fecharam os olhos aos avanços científicos. Apesar do senso comum de que ciência e misticismo não devem fundir-se, a Natureza parece constituir um desses espaços fronteiriços em que é plenamente possível – e até recomendável – a comunhão entre a matemática e a meditação, o quantitativo e o qualitativo, a  matéria densa e a matéria sutil [1], o cognitivo e o mental.

[1] A matéria, densa aos olhos da Física, é constituída de espaços vazios com partículas girando como planetas. Quanto mais se mergulha, mais sutil ela aparece

Ao apontar os limites ambientais para as emissões de gases-estufa, a partir dos quais haverá um aquecimento da temperatura do planeta acima do suportável para muitas espécies animais e vegetais, os cientistas assumiram um papel de protagonismo no cuidado com a manutenção da vida na Terra. O sumo pontífice da Igreja Católica engajou-se na causa da sustentabilidade ao lançar em junho a encíclica Louvado Sejas – Sobre o Cuidado da Casa Comum (veja quadro), tratando de ecologia e mudança climática.

“Ciência e religião não se misturam, mas o tema ambiental é uma exceção na qual todos conseguem dizer a mesma coisa”, afirmou, em entrevista ao jornal The Seattle Times, Veerabhadran Ramanathan, cientista climático do  Scripps Institution of Oceanography [2], que participou da consultoria ao papa Francisco para a produção da encíclica.

[2] Instituição da Califórnia, é um dos maiores e mais antigos centros no mundo para a pesquisa de ciências dos oceanos e da Terra

Embora tenha comprovado que o aquecimento global é consequência da ação humana, a ciência, sozinha, não consegue fazer o homem internalizar os riscos físicos e morais de suas ações e mudar o modelo de desenvolvimento a tempo de evitar o pior cenário: um aumento médio da temperatura da Terra acima dos 2 graus. As maiores religiões do mundo – Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, Budismo e Judaísmo – abraçam juntas 83% da humanidade (veja quadro) e poderiam ser aliadas importantes nessa corrida contra o calendário. “Se nada fizermos, o aquecimento global poderá nos conduzir a uma catástrofe ecológico-social de proporções apocalípticas”, alerta o teólogo Leonardo Boff. “Vivemos em tempos de Noé, mas desta vez não haverá uma Arca.”

Da união à separação e da separação à reconciliação, vem de longe esse “namoro” entre ciência e espiritualidade. Para explicitá-la, o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV) Wilson Nobre recorre a uma analogia: a história da civilização não difere muito das fases da vida de um ser humano. Assim como uma criança crê em tudo o que ouve dos seus familiares, a humanidade viveu a sua fase de crenças, em que ignorava outras verdades.

“Aquilo que a humanidade deve a pessoas como Buda, Moisés e Jesus está, para mim, em um plano mais elevado do que as realizações das mentes indagadoras e construtivas”, Albert Einstein

A rebeldia da adolescência vem com René Descartes (1596-1650). Os velhos dogmas religiosos e místicos começam a ser rejeitados e, no Iluminismo, a situação se inverte e o culto à ciência transforma-se também em dogma. “O adolescente precisa negar os pais para tomar posse da sua trajetória”, comenta o professor Wilson Nobre.

Hoje, essa aproximação entre ciência e espiritualidade, seja nas pesquisas, no ensino, nos negócios, seja na sustentabilidade, sugere que a humanidade está em uma fase mais madura de sua existência. Maria F. de Mello, pesquisadora do Centro de Educação Transdisciplinar (Cetrans), lembra que o Massachusetts Institute of Technology (MIT) comemorou seus 100 anos de existência erguendo uma escultura humana formada por símbolos místicos – quem sabe um sinal de reverência da ciência a outras formas de manifestações humanas. Para ela, um momento de inflexão foi quando cientistas no século XX se deram conta de que a realidade não podia ser lida apenas pela Física Mecânica. “A Física Quântica recuperou a aceitação do não visível, daquilo que não é aparentemente verificável”, diz.

“As estrelas sempre foram caras ao coração das crianças e dos poetas… A astrofísica explica que nossos átomos foram carregados pelo ventre das estrelas. O elo entre as estrelas e o homem é genético, material e histórico.” Michel Cassé, astrofísico francês

A filósofa americana Renée Weber dedicou sua vida pessoal e acadêmica a buscar uma “reconciliação” entre ciência e misticismo nas relações com a natureza. Começou estudando Filosofia, mas se decepcionou. No livro Diálogos com Cientistas e Sábios – A busca da unidade (Cultrix, 1986), ela explica: “Desde os tempos dos grandes cultores holísticos – Pitágoras e Sócrates, Platão e Spinoza, Hegel e Whitehead –, a Filosofia foi se estreitando. (…) Em sua roupagem moderna, ignora a natureza como um todo, deixando essa tarefa para os cientistas”.

Renée Weber foi em frente. Fez pesquisas e entrevistas com cientistas, sábios e religiosos ao redor do mundo. Na Física, encontrou uma ciência mais integrada à natureza, mas ainda assim muito debruçada sobre fragmentos, para o seu gosto. Sem um olhar integral para as coisas. “Descobri, anos depois, que o misticismo se aproxima mais de tudo por ser mais abstrato e também mais penetrante, e obcecado pela simplicidade”, relata. E resume que ambos, ciência e misticismo, a rigor, perseguem a mesma verdade fundamental acerca da origem da matéria, com a diferença de que a ciência precisa explicá-la e o misticismo quer apenas experimentá-la.

Esse olhar mais integral está na reflexão que o Cetrans propôs em seu sétimo encontro de membros, que teve como mote “O símbolo e o sagrado” e se baseou no pensamento de  Luc Bigé [3]: “Vivemos hoje num mundo onde os valores materiais e as mudanças econômicas preenchem toda a paisagem da consciência. Entretanto, a natureza é ao mesmo tempo objetiva, relacional, saturada de sentido e em perpétua metamorfose. A supervalorização da objetividade deixa as outras facetas da natureza humana, como a ecológica, a política e a psíquica, muito desequilibradas. O ‘reencantamento do mundo’ procura reintegrar essas outras facetas nas experiências humanas”.

[3] Bioquímico, filósofo e fundador da Université du Symbole

Entre os cientistas contemporâneos que dão importância a exercícios para além da objetividade científica estão Otto Scharmer e Peter Senge, do MIT. Em 2004 eles lançaram, no campo da sustentabilidade, a Teoria U, cuja base tem inspiração em práticas budistas e hinduístas de meditação. Anos antes, Peter Senge lançara com grande sucesso A Quinta Disciplina (Best Seller, 1990), teoria que sugere a visão sistêmica em todos os aspectos da vida, dos negócios, da natureza. O livro virou uma espécie de bíblia para os administradores de empresas.

No entanto, apesar de a teoria ter sido posta em prática por milhares empresas de todo o mundo que buscavam reduzir seus impactos negativos, os resultados práticos foram pouco eficazes. Durante um período de perplexidade e reflexão, Senge encontrou-se com Scharmer e, juntos, eles criaram esse novo projeto. Entrevistaram 150 líderes mundiais das áreas econômica, política, corporativa e religiosa para tentar entender o processo que os levou à posição de liderança. Nascia a Teoria U.

O formato da letra U é a representação de uma trajetória integral. Pode ser longa, servindo a um projeto de vida, por exemplo. Ou curta, se estiver relacionada a um projeto de negócio. Senge e Scharmer compreenderam nas entrevistas que, ao longo de suas jornadas, aqueles líderes tinham em comum um momento de conexão profunda com um estado sensível sempre que estavam em meio a um grande desafio.

Esse momento da trajetória coincide com a parte curva inferior da letra U. “Nessa fase, o projeto ainda não está nem visível nem material”, explica Wilson Nobre, estudioso da Teoria U. “Seria um estado de silêncio e de meditação, de se desligar do passado e deixar que a mente processe tudo o que foi assimilado até ali.” Ao retomar a jornada em direção aos objetivos, a mente estará mais bem preparada não só para criar, mas para inovar.

A dupla de cientistas do MIT criou uma série de ferramentais para dar objetividade à Teoria U, de modo que pudesse ser utilizada por empresas interessadas em sair do padrão ego-system – caracterizado pelo sistema egóico do business as usual – para o eco-system, que prioriza o todo, a sociedade. “Em 300 anos de sistemas egóicos, baseados no princípio do maximize-me, construímos um patrimônio fantástico, que foi possível enquanto havia apenas 1 bilhão de habitantes. Agora, que somos 7 bilhões, não dá mais”, afirma.

“Sem o zero não fazemos o dez ou o cem. Isso também acontece com o vazio: é o vazio e ao mesmo tempo a base de tudo.” Dalai-lama

A NOVA ESCOLA

Com o reforço do sociólogo francês Michel Maffesoli no time de estudiosos da Ecosofia, simpósios sobre o tema têm lotado auditórios em várias cidades europeias. “Na concepção de Maffesoli, a Ecosofia exprime uma nova sensibilidade difusa que não enxerga mais o meio ambiente como o entorno, o externo, o outro”, conta o sociólogo italiano Massimo di Felice, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Ou seja, há que se ter um olhar transdisciplinar e incluir atores não humanos entre os habitantes da biosfera.

A Ecosofia segue na linha da crise do antropocentrismo, muito discutida nos anos 1990 pelo movimento  Deep Ecology [4]. Historicamente, segundo o sociólogo italiano, as religiões monoteístas com escrituras, como  Hebraísmo, Cristianismo e Islamismo, foram as portadoras da cultura antropocêntrica. “O mito da gênese produz uma clara hierarquia entre o homem e a natureza que é, por sua vez, uma reprodução da hierarquia entre Deus e o homem”, interpreta. À Ecosofia atribuem-se atualmente quatro campos: o científico, o emocional, o prático e o espiritual. O objetivo deste último é desenvolver um novo acesso à natureza, através do misticismo natural. “Ao considerar-se como parte da teia da vida, o homem pode desenvolver uma responsabilidade mais ampla ou menos antropocêntrica e oportunista”, explica. Em sua opinião, os avanços atuais no campo religioso estariam ainda em um contexto de restauração e dogmatismo. Isto é, longe de pretender rupturas expressivas.

[4] Filosofia ecológica e ambiental de defesa do valor intrínseco dos seres vivos independentemente de sua utilidade instrumental

Para Di Felice, as divindades politeístas são, estas sim, expressões das forças da natureza. Difundem uma espiritualidade ecológica, expressão de uma conexão forte e dinâmica com os elementos naturais. E o Brasil possui algumas das místicas mais ecológicas do mundo, que são os cultos afro-brasileiros. Os orixás habitam os elementos da natureza, as águas, a mata, o fogo, e há também a mística indígena da  Ayahuasca [5] e todo tipo de Xamanismo. “O Brasil é um país de fronteira, onde o Ocidente e o não Ocidente se enfrentam: de um lado, uma cultura de produção e de política nacional destruidora; de outro, as culturas locais. Ou seja, de um lado, o Brasil cristão, católico, evangélico; do outro, o Brasil xamânico, politeísta, candomblecista”, descreve. (Mais sobre a diversidade religiosa brasileira em reportagem “Salve, Jorge”)

[5] Bebida associada a rituais de diferentes grupos e religiões, que também faz parte da medicina tradicional dos povos da Amazônia

SACODE A POEIRA

O rabino e escritor Nilton Bonder não vê nos textos bíblicos uma fala de dominação. O antropocentrismo presente nas escrituras era típico de quem está precisando se valorizar. Naquele tempo, não tinha como ser diferente. Uma criança precisa se valorizar e desenvolver autoestima para crescer forte e sobreviver. Assim, quando é dito para Adão e Eva: “Crescei e multiplicai-vos”, de acordo com Bonder, é uma fala do passado, de uma época em que, de cada três filhos, dois morriam. “Para se dar bem enquanto espécie, com tantos desafios, o homem tinha de ter muitos filhos mesmo.”

Se fossem escritos hoje, talvez os textos dissessem: “Não vos multiplicai mais”. Na análise do rabino, portanto, a religião tem de estar em um lugar de sabedoria. Qualquer coisa dita há 3 mil anos pede uma ressalva. É o que se faz, por exemplo, quando se estudam tratados sobre psicologia de 100 anos atrás. “Poderão ser obsoletos e conter incorreções grosseiras, ou poderão trazer indicações preciosas do pensamento humano”, pondera Bonder. Tudo é uma questão de tirar a poeira acumulada antes de interpretar.

Com 20 livros publicados, entre os quais Fronteiras da Inteligência – A sabedoria da espiritualidade e A Alma Imoral, o rabino também crê que há uma larga distância entre aquilo que pregam instituições religiosas e o que verdadeiramente pensam as pessoas que buscam religiosidade.

“Acho que as pessoas que trabalham o lado da espiritualidade são sábias, pois conseguem explorar uma área em que reinam as incertezas. É necessário uma mistura de intuição e experiência para promover luminosidade onde, para a inteligência, tudo é ainda muito escuro”, afirma Bonder. “Essa sabedoria pode estar no Budismo, no Islamismo, no Hinduísmo e em qualquer outra manifestação religiosa, seja a dos índios das Américas, seja a de grupos étnicos da África. Em todos esses lugares há uma produção impressionante de sabedoria.”

NA PRIMEIRA PESSOA

Sobre mudança climática e sustentabilidade, o pensamento do rabino tem forte ligação com o pensamento budista: esse tipo de transformação precisa do alicerce do autoconhecimento. Bonder afirma que o ser humano tem essa impressão de que existe alguém no comando, controlando o timão que move o mundo. Mas, na realidade, o planeta vai sendo conduzido pelo próprio peso de 7 bilhões de pessoas e seus “zilhões” de interesses e interações. Portanto, quando faz um discurso que coaduna com a questão ambiental, o papa está buscando um empuxo para as instituições se esforçarem para ir na direção que precisam. Mas ninguém tem controle sobre isso. “É meio chocante que a inteligência humana não consiga tomar o timão para desviar desse imenso ‘iceberg’ [aquecimento global] bem à nossa frente.”

Para o Budismo, o ser humano também é uma conjugação de vetores de forças. A inteligência tem o seu lugar, mas existem outros componentes. Dada toda essa complexidade, a solução para males como a mudança do clima depende, em última instância, do altruísmo do homem. Ou, nas palavras de Gustavo Gitti, que trocou a carreira acadêmica tradicional pelo estudo do Budismo, dependem de amor, empatia e compaixão, sentimentos que predominam entre os que praticam o autoconhecimento através da meditação.

Gitti cita ensinamentos do monge francês Matthieu Ricard, que esteve no Brasil em maio. Sobre a questão ambiental, o monge conversa com economistas (que trabalham com o curto prazo), com profissionais das ciências humanas (que se preocupam com o médio prazo, ou o tempo de duração da vida humana) e com ambientalistas (que enxergam o longo prazo). O que seria capaz de unificar um discurso entre grupos com campos de visão tão diferentes? “Só mesmo o altruísmo faria todos andarem em uma mesma direção”, diz Gitti.

CIÊNCIA SAGRADA

O altruísmo, o autoconhecimento, a Ecosofia, a transdisciplinaridade, a encíclica Louvado Sejas são os vários caminhos que podem “descoisificar” a natureza, para usar uma expressão da estudiosa em Astrologia Maria Teresa Mendonça de Barros. Formada em Letras e com especialização em psicanálise, ela conta como na Idade Moderna a Astrologia foi apartada da Astronomia e transformada em algo de somenos importância por supostamente não ter como aferir suas teorias zodiacais. “Ora, nenhuma ciência é detentora de todo o saber. A Astrologia trabalha com estatísticas e analogias”, argumenta. E existe desde os sumérios e os babilônios, povos antigos que diziam: ‘Assim como em cima, embaixo’.” Ou seja, viram uma correlação entre movimentos dos corpos celestes e fatos terrenos.

Para Barros, a Física Quântica e a Física Moderna provam hoje do mesmo “veneno” aplicado no passado à Astrologia. Estão mais próximas do sagrado do que da ciência pura ao não conseguirem também aferir teorias nesse mundo das partículas. Construíram uma estrutura gigantesca na Suíça [um anel acelerador de partículas] para tentar provar a existência da partícula de Deus [ou Bóson de Higgs] e não conseguiram.

O cientista francês  Jacques Labeyrie [6] (1920-2009) seguia essa linha da autocrítica. No capítulo que escreveu para o livro A Religação dos Saberes, do sociólogo Edgar Morin, listou uma série de perguntas que a Astrofísica – a ciência que uniu a Terra e o Céu – não sabe responder: se o universo está em expansão, em que vai se transformar? Será que um dia o universo vai deixar de crescer? Se está em expansão, é porque já foi menor, mais condensado e, portanto, mais quente? E Labeyrie arrematou: “Essa bela teoria do Big Bang não merece de fato o qualificativo de teoria, pois se baseia em fenômenos que são, em sua maioria, puramente imaginários… o que mostra bem que a representação do Cosmos, como em épocas anteriores, compreende ainda hoje uma enorme parcela de sonho”.

[6] Foi diretor da Agência de Meio Ambiente e de Gestão de Energia da França

MELHOR QUE A ENCOMENDA

A encíclica Louvado Sejas dá uma “injeção de ânimo” nos movimentos ambientalistas

Ao longo das 200 páginas da encíclica Louvado Sejas, o papa Francisco escreveu tudo aquilo – e mais um pouco – que gostariam de ler os cientistas, os ambientalistas e as pessoas minimamente preocupadas com a degradação que está sendo legada para as futuras gerações. Os efeitos práticos das palavras sacras na mudança climática ainda estão incógnitos, mas só a ênfase dada ao tema pelo líder da Igreja Católica, que conta com mais de 1,2 bilhão de seguidores, parece ter sido suficiente para dar uma impulsão no ânimo dos militantes mais pessimistas.
A presidente internacional do WWF e ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, Yolanda Kakabadse Navarro, considera a encíclica da maior importância, pois crê que vozes das comunidades cristãs ao redor do mundo poderão se somar aos movimentos ambientalistas. Além disso, o texto aponta para temas da vida cotidiana relacionados à ética do comportamento do indivíduo e da sociedade. “O papa Francisco recuperou a credibilidade da liderança do Vaticano ao tratar de uma agenda importante para o cotidiano de muitos seres humanos ameaçados pela mudança climática e outros que já estão sofrendo com secas e inundações”, afirma.
Kakabadse lembra que o Vaticano é membro das Nações Unidas e há mais de uma década a hierarquia da Igreja Católica participa dos fóruns mundiais de mudança climática como parte ativa nas discussões. Há também a Aliança das Religiões e Conservação (ARC), criada nos anos 1980, da qual o WWF é associado. Líderes das principais religiões do mundo realizam um trabalho integrado na busca de soluções de sustentabilidade. “Outras fés também têm interesse em contribuir. Não importa se são católicos, protestantes, muçulmanos, mas que estejam unidos na ética do comportamento, na preocupação com os mais fracos e pobres, na responsabilidade com a humanidade.”

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